Imagine São Paulo nos anos 1970: fast-foods ainda eram novidade, a cidade fervilhava com jovens buscando diversão acessível e famílias aproveitando bons momentos juntas. Nesse cenário surgiu uma ideia simples, mas genial — e com um toque ousado: pagar apenas um terço do valor de uma pizza e comer à vontade, quantas fatias aguentasse. Era o princípio do revolucionário rodízio de pizzas. A mente por trás dessa proposta foi Sérgio Ricardo Della Crocci, empresário que inaugurou a primeira unidade no bairro do Pari, em 1976, batizando seu negócio com seu próprio nome
O sucesso foi instantâneo. Em apenas dois anos, o “Grupo Sérgio” já contava com cinco unidades espalhadas por São Paulo. As filas viraram rotina e a rede chegou a atender 15 mil clientes por semana, consumindo 3,5 toneladas de massa e 25 toneladas de mussarela em cada uma das unidades
Algumas dessas pizzarias eram verdadeiros “transatlânticos culinários”: enormes salões que acomodavam até mil pessoas — como a que funcionava próxima à estação Belém, na Radial Leste. Sábados à noite eram disputados, cenas de grupos apostando quem comia mais fatias eram comuns. O que realmente fazia sucesso não era tanto a sofisticação da pizza — que era simples, massa fina, coberturas básicas — mas o clima de festa, o riso rolando solto, aquela sensação de liberdade e fartura.
Por mais de dez anos, o Grupo Sérgio reinou absoluto no circuito de fast-food paulistano. Mas tudo que é novo, com o tempo, perde seu brilho. A partir da metade dos anos 1980, começou a surgir forte concorrência: grandes redes de fast-food chegaram com investimento pesado, marketing moderno e um visual mais padronizado — e foi então que o público começou a se dispersar
Em uma tentativa de sobrevivência, o Grupo Sérgio incorporou bufês ao modelo, tentando se adaptar aos novos hábitos de consumo. Mas a reinvenção não foi suficiente. A rede não resistiu ao final da década de 1990 e fechou todas as portas definitivamente
Dizem muitos que a rede teve até 20 pizzarias na cidade, espalhadas por bairros como Belenzinho e Praça da República, e que seu cardápio ia além da pizza, incluindo esfihas, quibes e outras delícias da culinária árabe — sem dúvida, antecipando tendências e influências que hoje vemos em redes como o Habib’s.
Alguns chegaram a especular que várias unidades do Grupo Sérgio foram incorporadas por redes que surgiram depois, como o Habib’s, ou transformadas em casas da Esfiha Chic — mas isso parte mais de boato nostálgico do que de confirmação oficial
O Grupo Sérgio deixou para trás muito mais do que um sabor específico. Ele foi o pioneiro do rodízio de pizzas como experiência de consumo — uma marca registrada no imaginário dos paulistanos daquele tempo. Mesmo com pizzas simples, transformou refeições em festa, fez da comida acessível um convite ao convívio e à diversão.
Sua queda, lenta, acompanhou outras transformações do mercado: mudança nos hábitos, surgimento de redes mais modernas, novos formatos de entretenimento e consumo. Fechou as portas, mas não o coração das lembranças.
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