Os anos 1970 foram uma década de transição e transformação no universo da animação. Com as mudanças culturais e políticas do pós-anos 60 — como o movimento hippie, os direitos civis, a Guerra do Vietnã e o avanço da cultura pop —, os desenhos animados passaram a refletir novos valores, estéticas mais ousadas e preocupações sociais.
Foi um período em que as grandes produtoras, como Hanna-Barbera, Filmation e Warner Bros., adaptaram suas fórmulas para se conectar com o novo público: crianças urbanas, jovens mais politizados e uma sociedade mais questionadora. Ao mesmo tempo, houve uma explosão de personagens coloridos, musicais, super-heróis e aventuras no espaço, muitos deles com forte influência psicodélica, sonora e visual.
Scooby-Doo e os desdobramentos do sucesso
Embora tenha surgido no final dos anos 60, Scooby-Doo, Where Are You! dominou os anos 70 com novos episódios, variações e spin-offs. A fórmula — mistério, humor, amizade e desfechos “lógicos” — agradava pais e filhos. Durante a década, surgiram títulos como The New Scooby-Doo Movies, onde o grupo resolvia casos com celebridades convidadas, e The Scooby-Doo Show (1976), que reforçou a marca. Outros desenhos seguiram o mesmo modelo: grupos de adolescentes acompanhados de mascotes carismáticos resolvendo casos ou enfrentando vilões. Entre eles:
Josie and the Pussycats (1970): uma banda feminina que vivia aventuras pelo mundo.
Speed Buggy (1973): jovens aventureiros e um carro de corrida falante.
Funky Phantom (1971): adolescentes ajudados por um fantasma da Guerra da Independência americana.
Super-Heróis, poderes e justiça
A década de 70 viu uma nova onda de desenhos de super-heróis, muitos deles baseados em personagens de quadrinhos, refletindo a popularidade crescente da cultura geek:
Super Amigos (Super Friends, 1973): reuniu Superman, Batman, Mulher-Maravilha, Aquaman e outros heróis da DC em aventuras cooperativas, sempre com lições de cidadania. Foi um enorme sucesso e permaneceu no ar, com variações, até os anos 80.
He-Man e She-Ra ainda não haviam surgido, mas desenhos como Shazam! e Tarzan, Lord of the Jungle (ambos da Filmation) traziam heróis clássicos em versões infantis.
O Homem-Pássaro (Birdman and the Galaxy Trio, 1967–1970): embora lançado antes, teve grande presença na programação da década, influenciando futuras animações para adultos.
Capitão Caverna e as Panterinhas (1977): misturava humor pré-histórico com elementos de super-heróis e espionagem.
Aventuras no espaço e futurismo psicodélico
Em plena era da exploração espacial e sob forte influência de Star Trek e ficções científicas, vários desenhos da época viajaram para o espaço — literalmente:
Os Herculóides (exibido em reprises nos anos 70): um grupo de heróis em um planeta alienígena, lutando contra ameaças tecnológicas e místicas.
Galaxy Trio e Space Ghost também ganharam força nas reprises.
Os Jetsons, apesar de ser dos anos 60, foi redescoberto por uma nova geração, com forte presença nas manhãs e tardes televisivas.
Desenhos com conteúdo musical
A música era parte vital da cultura jovem nos anos 70, e isso se refletiu nos desenhos. Bandas reais e fictícias eram incorporadas ao enredo:
The Jackson 5ive (1971): estrelado pelos irmãos Jackson, mostrava aventuras em meio a canções de sucesso.
The Beatles (1965–1969, mas reexibido com força na década seguinte).
Josie and the Pussycats in Outer Space (1972): continuação da série original, agora em clima sci-fi.
Clássicos da Hanna-Barbera e séries cômicas
Mesmo com as novidades, os estúdios seguiram produzindo personagens com humor leve e infantil, mantendo sua assinatura visual e sonora:
Dom Pixote, Manda-Chuva, Zé Colmeia e outros voltaram com novos episódios ou participações em especiais.
A Formiga Atômica e Pepe Legal continuavam populares em pacotes de reprises.
Hong Kong Fu (1974): um cachorro que era faxineiro de dia e mestre do kung fu de noite — combinação inusitada e muito popular.
O Urso do Cabelo Duro (Help!... It's the Hair Bear Bunch!, 1971): três ursos em um zoológico tentavam escapar e se divertir, numa crítica cômica à autoridade.
O compromisso com temas sociais
Nos anos 70, começaram a surgir desenhos que tratavam, ainda que discretamente, de temas sociais, como preconceito, meio ambiente, inclusão e não-violência. A série Fat Albert and the Cosby Kids (1972), criada por Bill Cosby, por exemplo, tinha foco em ética, respeito, amizade e educação — com episódios que abordavam racismo, pobreza e bullying.
O Legado dos Anos 70
Os desenhos animados dos anos 70 foram menos sofisticados tecnicamente que os das décadas seguintes, mas deixaram uma marca profunda por sua diversidade temática. Misturaram humor, mistério, ficção científica, música e compromisso social em uma linguagem que ainda hoje inspira a animação moderna.
Essa foi a década em que os desenhos deixaram de ser apenas "coisa de criança" para se tornarem produtos culturais complexos, com múltiplas camadas. Muitos personagens dessa era ainda vivem no imaginário coletivo, seja através de remakes, filmes ou pela nostalgia que despertam nos adultos que foram crianças naquela época.
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